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NECTAR | Cursos

CURSO

COMUNICAÇÃO, ARTE, CULTURA E COMENSALIDADE

Aula
03

Arte, Filosofia e Ciência – As três asas do conhecimento.
Gilles Deleuze. O que é a Filosofia.
Bloco I – O que é um conceito?
Bloco II – Filosofia, Ciência Lógica e Arte

Aula do dia 24 de março de 2021
PPGCOM UERJ / PPGANS UERJ

Professores
Shirley Donizete Prado e
Francisco Romão Ferreira

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Abertura da aula

(aquecimento)

Lady Gaga - Your song

Ella Fitzgerald I Love Paris.... (with lyrics)

Les Négresses Vertes - I Love Paris

Apresentação

Francisco Romão Ferreira
Francisco Romão FerreiraProfessor

Arte, Filosofia e Ciência

As três asas do conhecimento.

Multiplicidade ou univocidade / somos um ou somos vários?

O que é um conceito?

O que é um bloco de sensações?

Heretogênese:
O rizoma e a árvore do conhecimento

Prévias da Apresentação

As três asas do conhecimento.

As Artes, a Filosofia e as Ciências são instâncias criadoras, que utilizam a intuição, a imaginação, a criatividade, a razão, mas a criação de conceitos é competência da Filosofia.
A Filosofia produz conceitos (conceptos),
a Ciência produz proposições (prospectos)
e a Arte produz percepções e sensações (perceptos e afectos).

Multiplicidade ou univocidade / somos um ou somos vários?

“Cada ser humano é uma pequena sociedade” (Novalis, 1798)
Ao contrário da racionalidade ocidental que observa a diferença buscando suas semelhanças, um padrão, algo uniforme, uma lei universal ou um conceito único, Deleuze afirma a diferença.
Critica a noção metafísica de um “conceito abstrato” com validade universal.
A partir dessa diferença ele vai conceber a vida, o mundo, a produção de conhecimento, como criação, invenção, jogo de forças, intensidades, tentando liberar os fluxos, os movimentos.
Pensa a diversidade sem recorrer às noções tradicionais de “uno ou múltiplo”, mas de simultaneidades, multiplicidades, movimento contínuo e criatividade..

O que é um conceito?
Como pensar os conceitos?

O Filósofo é aquele que tem a potência de criar os seus próprios conceitos, inventar um mundo novo, a partir de uma assinatura própria.
Um conceito não exige apenas um problema, uma questão ou perspectiva, mas uma encruzilhada de problemas que se articulam, se aliam, se confrontam

Heterogênese

A produção do conhecimento não possui uma origem única, produz uma multiplicidade de relações ao nascer.
Ao contrário da concepção tradicional do saber, que utiliza a imagem da árvore, das ramificações a partir de um tronco, uma origem única, e os outros saberes se constituiriam a partir dessa origem única, desse conjunto de relações que se ramificaram, especializaram e hierarquizaram.
O RIZOMA, ao contrário, remete à ausência de hierarquia, remete à imagem da grama, da erva, de algo que não se controla ou domestica.

O que é um bloco de sensações?

Há tanta criação em ciência quanto na filosofia ou nas artes. Mas a arte produz um “bloco de sensações”, isto é, um composto de afectos e perceptos.
Os acordes são afectos. Consoantes e dissonantes, os acordes de tons ou de cores são os afectos da música, cinema ou pintura.
Os artistas criam blocos de perceptos e afectos, mas a única lei da criação é que o composto deve ficar de pé sozinho.

Referências

Deleuze:
conceito, percepto, afecto

Em o "Abecedário de Gilles Deleuze", série de entrevistas feita por Claire Parnet e filmada nos anos 1988-1989, há um trecho em que ele fala  de maneira bem clara sobre os conceitos de percepto  e de afecto e sua produção pelos artistas:

Transcrição integral do vídeo,
para fins exclusivamente didáticos

"Há os conceitos, que são a invenção da Filosofia, e há o que podemos chamar de perceptos. Os perceptos fazem parte do mundo da arte. O que são os perceptos? O artista é uma pessoa que cria perceptos. Por que usar esta palavra estranha em vez de percepção? Porque perceptos não são percepções. O que é que busca um homem de Letras, um escritor ou um romancista? Acho que ele quer poder construir conjuntos de percepções e sensações que vão além daqueles que as sentem. O percepto é isso. É um conjunto de sensações e percepções que vai além daquele que a sente. Vou dar alguns exemplos. Há páginas de Tolstoi que descrevem o que um pintor mal saberia descrever. Ou páginas de Tchekov que, de outra maneira, descrevem o calor da estepe. Há um grande complexo de sensações, pois há sensações visuais, auditivas e quase gustativas. Alguma coisa entra na boca. Eles tentam dar a este complexo de sensações uma independência radical em relação àquele que as sentiu. Tolstoi também descreve atmosferas. As grandes páginas de Faulkner! Os grandes romancistas conseguem chegar a isso. Há um grande romancista americano que quase disse isso. Ele não é muito conhecido na França, e gosto muito dele. É Thomas Wolfe. Ele descreve o seguinte: 'Alguém sai de manhã, sente o ar fresco, o cheiro de alguma coisa, de pão torrado, etc., um passarinho passa voando... Há um complexo de sensações. O que acontece quando morre aquele que sentiu tudo isso? Ou quando ele faz outra coisa? O que acontece?'
 

percepto

"O percepto é isso. É um conjunto de sensações e percepções que vai além daquele que a sente."

Isso me parece a questão da arte. A arte dá uma resposta para isso: dar uma duração ou uma eternidade a este complexo de sensações que não é mais visto nem sentido por alguém ou que será sentido por um personagem de romance, ou seja, um personagem fictício. É isso que vai gerar a ficção. E o que faz um pintor? Ele faz apenas isso também, ele dá consistência a perceptos. Ele tira perceptos das percepções. Há uma frase de Cézanne que me toca muito, Um pintor não faz outra coisa. Há uma frase que muito me impressiona.

Há um grande complexo de sensações, pois há sensações visuais, auditivas e quase gustativas. Alguma coisa entra na boca. Eles tentam dar a este complexo de sensações uma independência radical em relação àquele que as sentiu.
 

Pode-se dizer que os impressionistas distorcem a percepção. Um conceito filosófico ao pé da letra é de rachar a cabeça, porque é o hábito de pensar que é novo. As pessoas não estão acostumadas a pensar assim. É de rachar a cabeça! De certa forma, um percepto torce os nervos e podemos dizer que os impressionistas inventaram perceptos. Mas Cézanne disse uma frase que acho muito bonita: "É preciso tornar o impressionismo durável". Quer dizer que o motivo ainda não adquiriu independência. Trata-se de torná-lo durável e, para isso, são necessários novos métodos. Ele não quis dizer que se deve conservar o quadro, e sim que o percepto adquire uma autonomia ainda maior. Para tal, precisará de uma nova técnica. 

 

os afectos

"Para mim, os afectos são os devires. São devires que transbordam daquele que passa por eles, que excedem as forças daquele que passa por eles. O afecto é isso."

E há um terceiro tipo de coisa e muito ligada às outras duas. É o que se deve chamar de afectos. Não há perceptos sem afectos. Tentei definir o percepto como um conjunto de percepções e sensações que se tornaram independentes de quem o sente. Para mim, os afectos são os devires. São devires que transbordam daquele que passa por eles, que excedem as forças daquele que passa por eles. O afecto é isso. Será que a música não seria a grande criadora de afectos? Será que ela não nos arrasta para potências acima de nossa compreensão? É possível.

Mas o que quero dizer é que as três estão ligadas. É uma questão de acentuar as coisas. Quando se pega um conceito filosófico, este conceito faz com que se veja as coisas. Os filósofos têm este lado de videntes, pelo menos aqueles de quem gosto. Spinoza faz ver. É um dos filósofos mais videntes que existe. Nietzsche também faz ver. E eles também são fantásticos 'lançadores de afectos'. É por isso que me vem logo à mente a idéia de uma música destes filósofos. Assim como a música faz ver coisas estranhas. Às vezes, ela nos faz ver cores, mas cores que não existem fora da música. E os perceptos também. Todos estão muito ligados. Eu sonho com uma espécie de circulação entre uns e outros, entre os conceitos filosóficos, os perceptos pictóricos, os afectos musicais. E não é de se espantar que existam repercussões. Por mais independentes que sejam estes trabalhos, eles se penetram constantemente."

Caetano Veloso
Trem Das Cores

Ele descreve o seguinte: 'Alguém sai de manhã, sente o ar fresco, o cheiro de alguma coisa, de pão torrado, etc., um passarinho passa voando... Há um complexo de sensações. O que acontece quando morre aquele que sentiu tudo isso? Ou quando ele faz outra coisa? O que acontece?'.



#22 Os Miseráveis - Do You Hear The People Sing? (Legendado)

Será que a música não seria a grande criadora de afectos? Será que ela não nos arrasta para potências acima de nossa compreensão? É possível.



O que é Filosofia?

Gille Deleuze e Felix Guatarri

A partir da questão - O que é a filosofia? -, Deleuze e Guattari esclarecem as condições, as incógnitas e os requisitos subjacentes à sua elaboração. A seguir, estabelecem as diferenças entre a atividade filosófica e a atividade científica ou artística. "A filosofia faz surgir os acontecimentos com seus conceitos, a arte ergue os monumentos com as sensações e a ciência constrói os estados de coisas com suas funções."

Arte e sensação – a reflexão sobre a arte em Deleuze e Guattari

Gilles Deleuze | Filosofia, Arte e Ciência